domingo, 27 de setembro de 2020

QUE IMAGENS NUTRIMOS A RESPEITO DA IGREJA? | ESBOÇO DE SERMÃO

 


TEXTO BÍBLICO BASE

"Embora espere vê-lo em breve, escrevo-lhe estas coisas agora, para que, se eu demorar, você saiba como as pessoas devem se comportar na casa de Deus. Ela é a igreja do Deus vivo, coluna e alicerce da verdade" (1 Timóteo 3.14,15, Nova Versão Transformadora).

INTRODUÇÃO

Uma pergunta muito importante precisa ser feita, hoje, no atual contexto das igrejas evangélicas brasileiras: Como encaramos a Igreja do Senhor? A maneira como encaramos a Igreja pode ser influenciadora da forma como nos relacionamos com ela. Por isto é fundamental perguntarmos pela legitimidade desses modos de encarar a Ekklesia e, sobretudo, contrastá-los com as Escrituras. 

1. IMAGENS EQUIVOCADAS A RESPEITO DA IGREJA

Há imagens da igreja que alimentamos, mas que são incoerentes com o que as Escrituras ensinam a respeito da igreja. E deve-se lembrar ainda que muitas igrejas contribuem para alimentar essas imagens equivocadas. Consideremos a seguir algumas dessas imagens procurando compará-las (e superá-las) com o ensino bíblico a respeito da igreja.

1.1 Igreja como shopping center

Se dá quando a igreja local é encarada como uma espécie de fast food espiritual. Deus é visto como uma espécie de "garçom celestial", o púlpito cristão esvazia-se da Palavra e cede lugar a apelos e promessas de triunfo e vitória pessoal, os cristãos comportam-se como "clientes", pastores como "gestores e executivos eclesiásticos" e assim o senso de serviço cristão, comunidade de fé e amor ao próximo vai esvaindo-se...
A igreja do Senhor não é uma espécie de feira de bens materiais e espirituais. A Bíblia retrata a igreja como um espaço para a instrução mútua, por meio do ensino da Palavra, para a oração, ação de graças e para o serviço cristão. A leitura da igreja como uma espécie de shopping center não permite que o cristão se aproxime da comunidade de fé de uma forma altruísta, não utilitária.

1.2 Igreja como centro comunitário

Conquanto a ação social deva ser um elemento essencial a vida de uma igreja, ela é mais do que ação social. Ela tem uma missão kerigmática, ou para dizer noutros termos, soteriológica. Ela participa da ação redentora de Deus na história humana. Se uma igreja prioriza a ação social mas esquece de cuidar da evangelização, missão e da educação cristão, ela deixa de contemplar o ser humano em termos holísticos. Noutras palavras, ela precisa cuidar no sentido de comunicar o evangelho que seja integral, integral porque contempla o ser humano em sua totalidade, nas suas diversas dimensões existenciais: física, social, emocional e espiritual.

1.3 Igreja como empresa

Estou convencido de que uma igreja local até deve ser administrada como uma empresa, mas jamais confundida com uma empresa. Infelizmente, muitos cristãos e líderes eclesiásticos encaram a igreja desta forma. Em geral, as empresas tem como objetivo o lucro, ao passo que uma igreja deve ter como objetivo maior o cuidado com vidas. Ela pode se instalar numa região de periferia, que não promete nenhum tipo de retorno financeiro. A igreja investe em pessoas (formação humana) que por vezes nem permanecerão ali, mas contribuirão com o Reino. Noutras palavras, o que não seria viável a uma empresa, receberá investimento - inclusive financeiro - de uma igreja local. É neste sentido que se percebe que uma igreja local não é necessariamente uma empresa.

1.4 Igreja como teatro

Essa forma de encarar a igreja consiste em entendê-la como meio de entretenimento. Muitos cristãos vem tratando a igreja e se relacionando com ela como "o programa do final de semana", ou local de encontro social, onde podem rever amigos e familiares. Ou ainda: como o local onde poderão desfrutar de uma forma de espetáculo. Todavia, a igreja precisa ser pensada como comunidade de fé que se une num serviço coletivo comum. 
Participar de um culto não é o mesmo que participar de um espetáculo, ou de um tipo de apresentação religiosa. O culto a Deus deve ter objetivos bíblicos bem claros: adorar a Deus, anunciar o evangelho e instruir para o discipulado cristão. E nesses objetivos bíblicos, todos os membros da comunidade de fé local, com seus talentos, se unem para cumpri-los.

2. A IGREJA MISSIONAL À LUZ DAS ESCRITURAS

Após destacarmos algumas imagens equivocadas sobre a igreja, devemos mencionar que há uma maneira correta de olhar para a igreja. Encarar a igreja em termos missionais é uma forma correta de entender a natureza, organização e missão da igreja. A ideia de uma igreja missional implica em que a missão da igreja faz parte da sua própria natureza. Sua missão não é uma tarefa a parte, uma atividade em paralelo. Sua missão não pode simplesmente ser terceirizada com uma agência missionária ou organização parecida. A missão é parte da própria vida da igreja. Não é tanto o que fazemos, é quem somos!

CONCLUSÃO

Mesmo denominações históricas tem cedido seus púlpitos para a propagação de teologias ameaçadoras à saúde e  identidade da igreja do Senhor. A teologia da prosperidade e da confissão positiva; a teologia do triunfalismo religioso bem como a teologia da vingança que se instalaram em nossos discursos contribuem diretamente para a construção das imagens equivocadas da igreja aqui mencionadas e de outras não citadas, aqui. É preciso retornar ao ensino da Palavra de Deus a fim de entendermos que a igreja é coluna e firmeza da verdade, uma comunidade de pessoas redimidas que se dispõem a servir a Deus e ao próximo, pautados sobretudo pelo amor.


REFERÊNCIA

GOHEEN, Michael W. A Igreja missional na Bíblia: luz para as nações. Trad.: Ingrid Neufeld de Lima. São Paulo: Vida Nova, 2014.

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