terça-feira, 18 de junho de 2024

Sobre meu "desigrejamento": um balanço meses depois


Por Roney Cozzerteólogo e psicanalista.

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Sempre busco manter fixa na minha mente o fato de que analisar um movimento como o evangélico requer sempre considerar que ele é amplo e multifacetado. E que nele há muita gente boa e que de fato segue o ensino de Jesus na vida. Sou testemunha ocular disto! E eu mesmo, quando era evangélico, buscava viver assim. Por isto mesmo, ter isso em mente, para mim, é questão de honestidade intelectual.

Todavia, mesmo reconhecendo isto, não é exagero falar de uma espiritualidade e de uma cultura religiosa que definem esse movimento. Uma tendência geral. E essa cultura religiosa é atravessa por diversas características, sobre as quais eu refleti durante anos até decidir pela ruptura definitiva com o movimento. Entendi que ser evangélico é ser reconhecido por essas características, mas o cristão e o ser humano que me tornei não condiziam com essas marcas.

E tenho gratidão a Deus e orgulho de mim por isto!

Uma dessas características que define a espiritualidade evangélica é a sua notada - e chocante! - perversidade e insensibilidade religiosa. O Rio Grande do Sul ainda se recupera daquela que, bem provavelmente, seja a sua maior tragédia histórica, mas uma grande parcela da comunidade evangélica segue crendo e afirmando que essa tragédia é juízo de Deus sobre aquele Estado, sobretudo pelo fato dele abrigar terreiros e espaços de culto das religiões afro. O que revela também a intolerância religiosa desse segmento. Mas o pensamento de quem entendeu o evangelho, num momento assim, deveria ser de empatia, de solidariedade e de amor.

Outra marca dessa espiritualidade é a visão que ele tem de Deus: um Deus punitivo, iracundo e vingativo, bem diferente do Deus de Jesus Cristo. São esses mesmo evangélicos que bancam um projeto de Lei abjeto como o PL 1904/2024, mas defendem a torto e a direito a ideia de que "bandido bom é bandido morto". Ora, a vida de um adulto vale menos então que a vida de um feto? São esses mesmos evangélicos que vão para a porta de um hospital protestar contra o fato de uma menina de 11 anos ter feito aborto, a qual era violentada desde os seis, ao invés de se unirem para prestarem assistência espiritual e material à ela e à sua família.

É surreal o que esse movimento se tornou! Uma mistura de burrice, intolerância, incivilidade e violência simbólica "em nome de Deus"...

Sim! Essa espiritualidade é uma espiritualidade doentia!

Quando digo que os evangélicos, muitas vezes, se colocam na contramão de valores civilizatórios, algumas pessoas se chocam comigo. Mas momentos como esses que estamos vivendo, como os que mencionei acima, confirmam isso. Meus textos e falas partem de alguém que viveu muito tempo lá dentro. Não sou um garoto que ficou aborrecido com um puxão de orelha de um pastor e saiu da igreja, como pensam muitos a meu respeito. Minha recusa a essa espiritualidade é fruto de anos de reflexão, de conhecimento do interior do movimento e de ter visto e ouvido muita coisa.

De cá, sigo!

Em paz com Deus e com minha consciência.

Tenho sim minhas questões a resolver, mas prossigo buscando me melhorar e não me permitindo - não mais! - à exposição a essa espiritualidade e aos seus discursos. Por essas aberrações e tantas outras, o ambiente evangélico tornou-se insuportável para mim.

Há um caminho melhor que o dessa religião: aprender aos pés de Jesus, seguir seu exemplo, ler a Bíblia, praticar seus ensinos, amar o próximo e buscar contribuir com a sociedade usando o melhor que temos e que podemos fazer.

sábado, 25 de maio de 2024

Atitudes a serem assumidas e que podem tornar mais leve e feliz a nossa convivência com o próprio eu e com os outros

Por Roney Cozzerteólogo e psicanalista.

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✅ No ambiente de trabalho, busque sempre manter o compromisso com o profissionalismo e a qualidade na entrega dos trabalhos, a despeito do clima e do que falam de você. A avaliação dos outros a seu respeito é de inteira responsabilidade deles e não deve determinar o seu perfil profissional;

✅ Nunca responda de forma violenta. Vale lembrar que a assertividade pode ser combinada com educação e cordialidade;

✅ Busque sempre manter o equilíbrio emocional. Isso lhe ajuda a pensar e a agir da melhor forma;

✅ Não difame. Na impossibilidade de falar bem de alguém, não fale nada!

✅ Não se anule. Desenvolva a habilidade de dizer "Não" com educação;

✅ Não se justifique o tempo todo. É direito seu fazer suas escolhas e seguir por onde entender melhor; 

✅ Fale pouco da sua vida pessoal e, a depender do contexto, não fale nada. Informações dessa natureza podem ser usadas de forma parcial, irresponsável e leviana;

✅ Não esteja disponível o tempo todo. Viva também para si. O mundo continuará girando sem você...

✅ Antes de um juízo de valor, ou de tirar uma conclusão de pronto a respeito de alguém e/ou de alguma situação, primeiro pergunte: "O que houve?"

✅ Informações e detalhamentos, só o que for necessário. Lembre-se: há uma diferença entre mentira, omissão e aquilo que simplesmente não precisa ser dito;

✅ Falar só quando houver pertinência e relevância. A prudência bíblica é precisa quando ensina que aquele que muito fala, tem perturbações;

✅ Cautela com o caminho mais fácil! Outra vez podemos aprender com a sabedoria bíblica: "Doce é o sono do trabalhador porque tem pagamento pelo seu salário".

Espero ter ajudado 😉🤝🏻

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Psicanálise, o eu e os outros: encantamento, "dilaceramento" e desenvolvimento da pessoa humana

Por Roney Cozzer, teólogo e psicanalista.

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A Psicanálise é uma ciência que surge em conexão direta com a área médica, mas sem se confundir com ela. Joseph Breuer e Sigmund Freud afirmam: "Nossas experiências provêm da clínica particular numa classe social cultivada e afeita à leitura, e seu conteúdo diz respeito, de várias maneiras, à vida e ao destino mais íntimos de nossos doentes" (FREUD, vol. 2, s.d., [pdf], p. 12). Os textos psicanalíticos empregam termos médicos até com muita abundância, como se pode notar nesta referência de Breuer e Freud, tomada como exemplo. 

Seu principal objeto de estudo, o inconsciente, conquanto não seja passível de manuseio (nos termos das ciências biológicas, por exemplo), é passível de observação. Há padrões, recorrências, reflexos, "portas" de acesso a ele, que possibilitam estudá-lo. As histórias clínicas são fundamentais a esse conhecimento, mas em sua abordagem, a Psicanálise soma a elas "uma série de considerações teóricas". Breuer e Freud, discorrendo sobre a histeria, afirmam: "Após as histórias clínicas há uma série de considerações teóricas [...]" (FREUD, vol. 2, s.d., [pdf], p. 12).

Um dos três pilares da formação de um analista é a análise pessoal (ao lado da fundamentação teórica e da supervisão). Esse processo de análise pessoal contribui muito para o conhecimento de si mesmo, e essa descoberta de si por vezes não é agradável, constitui um processo doloroso, mas necessário e enriquecedor da pessoa humana. Esse processo de autoconhecimento pessoal, por vezes, "dilacera"...

Também o aporte teórico que a Psicanálise oferece é fundamental a essa descoberta de si e dos outros. Diversos conceitos relativos à mente humana e conhecimentos relacionados ao comportamento humano são desdobrados em perspectiva psicanalítica, auxiliando assim na melhor compreensão do humano, e do próprio eu. Nesse sentido, pode ser afirmado que fazer um curso de formação em Psicanálise implica realizar um trajeto para dentro de si, em certa medida.

A aquisição desse conhecimento implica num "dilaceramento"! É um percurso que "dilacera", "dilacera" porque requer sacrifícios: leitura e pesquisa constantes, investimento de tempo e de recursos financeiros. Esse esforço para adquirir conhecimento psicanalítico, e para tornar-se um psicanalista, priva da convivência com outros, priva do lazer, gera cansaço. Não é um percurso fácil. Mas é gratificante, pois trata-se de um conhecimento que encanta, e que contribui para o desenvolvimento do eu e de outros.

Assim, o esforço para conhecer os pilares teóricos da Psicanálise e a análise pessoal são dois processos "dilacerantes", mas absolutamente apaixonantes e contributivos. Vale a pena desenvolvê-los de modo contínuo. Neste texto, portanto, trabalho com o pressuposto de que a Psicanálise "dilacera" pelo menos de duas formas: na sua exigência quanto ao esforço para se adquirir conhecimento teórico de seus fundamentos e na análise pessoal. 



Referências

FREUD, Sigmund. BREUER, Joseph. Sigmund Freud: obras completas. vol. 2 (1893-1895). Trad.: Laura Barreto. Companhia das Letras, s.d.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Doutrina do Arrebatamento da Igreja e medo

Por Roney Cozzer

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Em praticamente toda a minha longa trajetória como evangélico, sempre vi a doutrina do rapto ser diretamente ligada ao medo e ao exclusivismo religioso. 

Sempre que o assunto era abordado, era feito em tom temerário, sombrio e à luz de catastrofismo e do medo. Honestamente? No geral, era raro ver a doutrina ser abordada em tom exuberante de esperança e alegria. 

O que ouvi durante muitos anos sobre o tema raramente se conectava às belas palavras de Paulo em 1 Tessalonicenses 4.17: "E assim estaremos com o Senhor para sempre". Lindas palavras! 

Não romantizo o mundo. Ele é uma sucessão de horrores. Mas também é um lugar maravilhoso e de muitas possibilidades. E a religião não precisa torná-lo pior do que de fato o é. 

Hoje, a ideia de que Cristo irá "raptar" alguns poucos milhões de pessoas, enquanto o restante do mundo queima sob os flagelos divinos mencionados no Apocalipse, me parece evidenciar um espírito sectarista, de exclusivismo religioso, de arrogância religiosa e ligado a esse eclesiocentrismo que marca a mentalidade evangélica. 

Vale recordar, contudo, que o vento sopra onde quer. E que muitos virão do Ocidente e do Oriente e se assentarão à mesa, com o Filho de Deus. A salvação não é institucionalizada. Ela é dom de Deus, e um mistério profundo. Deus amou o mundo, não apenas os cristãos. 

Entendo que a compreensão escatológica que adoto hoje é mais humana, mais solidária, que não se compraz em falar sadicamente de inferno e sofrimento para pessoas que não são cristãs. E é marcada por esperança. Esperança que me move no presente, no aqui e agora, tempo este que foi alcançado pelo Reino, Reino que é presente, não apenas futuro.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Mapa Mental: Prática Pedagógica no ensino de História

Por Roney Cozzer

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Sou um entusiasta dos Mapas Mentais. Eles são muito úteis no sentido de propiciar uma visão panorâmica do assunto em tela, além de contribuírem para que fixemos melhor as informações. Não devem atender à finalidade de "decoreba", mas sim de aquisição de conhecimento. Por isto mesmo, devem ser considerados ferramentas úteis no sentido de ensinar e aprender, e a conhecer, de fato.

O Mapa Mental abaixo reúne informações sobre a prática pedagógica no ensino da disciplina História e de fatores a ele atrelados, que devem ser considerados pelo educador.

Clique na imagem para ampliá-la

IMAGEM: Mapa mental de Prática Pedagógica no ensino de História

FONTE: Roney Cozzer

Indicação de leitura: 


📄 O DESAFIO DE ENSINAR HISTÓRIA NUMA PERSPECTIVA DIALÓGICA

Revista Recima21 - Revista Científica Multidisciplinar, 2023, Qualis B1


Hélio Rodrigo Chequetto
Roney Ricardo Cozzer

Resumo: O presente trabalho considera alguns desafios que marcam o ensino de História no Brasil, mas levando em conta, sobretudo, o desafio em particular de ensinar a disciplina numa perspectiva de dialogicidade. Ensinar em perspectiva dialógica requer do professor maior dedicação e ampliação da sua formação. Essa ampliação se dá não apenas pela formação continuada realizada na mesma área de formação, mas buscando-se aportes epistemológicos também em outras áreas, correlatas ao seu campo específico de formação. O pressuposto básico para se defender essa dialogicidade se assenta, sobretudo, em dois fatos amplamente verificáveis e já constatados por grandes pensadores como, por exemplo, Humberto Eco, Edgar Morin e outros: 1. O próprio conhecimento, hoje, é dialógico, de modo que não é mesmo possível operar de modo rigidamente restrito numa área de conhecimento sem dialogar com outras e, 2. A própria realidade, na Pós-modernidade, é complexa e resultado de uma confluência de saberes e competências, o que a torna igualmente complexa. Compreender essa realidade complexa, portanto, pressupõe um conhecimento complexo. O ensino de História, portanto, levando em conta esses fatores, poderá ser mais contextualizado e conectado com a realidade, da qual participam os discentes. Isto possibilita uma reflexão mais profunda das condições histórico-sociais que são determinantes sobre o sujeito, mas que o sujeito pode contribuir para modificar para melhor.


domingo, 28 de janeiro de 2024

Mateus 1.18-25: Ouvindo Deus na ponderação | Um devocional


Por Roney Cozzer

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Introdução

A devoção requer ponderação. Ponderar sobre alguém, sobre uma situação ou sobre uma importante decisão a ser tomada requer humildade. E isso é bom! 

É fato que nem sempre podemos garantir a administração de todos os fatos da nossa vida. Nem sempre dará certo! Mas ponderar e agir com cautela aumenta as possibilidades de acerto.


1. Uma situação difícil e delicada

Com José aprendemos que, por vezes, a vida coloca situações difíceis para nós. E nem sempre são difíceis por razões questionáveis, mas também por razões legítimas e nobres. A situação delicada com a qual José estava lidando tinha que ver com nada menos que "a origem de Jesus Cristo" (Mateus 1.18).

No universo judaico antigo, "[...] o noivado [erusin] representava um vínculo mais forte do que a maioria dos compromissos equivalentes no mundo ocidental de hoje", e costumava durar um ano (KEENER, 2017, p. 47). 

Havia um compromisso estabelecido no noivado, que era muito sério! Relação sexual com outra pessoa durante esse período implicaria adultério (KEENER, 2017, p. 47). Craig S. Keener, biblista pentecostal, explica que "[...] na época do Novo Testamento, tudo que se exigiria de José seria que se divorciasse de Maria e a expusesse à vergonha" (KEENER, 2017, p. 47). 

José, no entanto, não quer fazer isso com Maria. Importa-se com ela. Ele cogita "[...] se divorciar de Maria sem tornar a vergonha dela ainda mais pública" (KEENER, 2017, p. 48). Mas ouvindo a mensagem de Deus, por meio de um anjo do Senhor, não acreditou que Maria tivesse tido relações sexuais com outro homem, e a acolheu, tornando-se, assim, o pai adotivo de Jesus.


2. José "nos ensina" sobre alteridade

José não pensa apenas em si mesmo, mas leva em conta outra pessoa que lhe era importante, nesse caso, Maria, a mãe do Salvador. Ele pondera, "sendo justo e não a querendo infamar" (Mateus 1.19). 

Vivemos tempos desafiadores. A incompreensão aumenta, nos lembra o educador Edgar Morin (MORIN, 2007). Os tempos são líquidos, diriam Zygmunt Bauman (2003). Nesses tempos líquidos e de incompreensão, o outro nem sempre ocupa nosso pensamento e preocupações. Aumenta o egoísmo e se esvai a alteridade. 

Com José podemos aprender que nossas decisões, por vezes (ainda que nem sempre), implicam sobre outras pessoas, positiva ou negativamente. Nem tudo que é sobre nós tem que ver exclusivamente conosco. Pensemos nisto.


3. Ouvindo Deus na ponderação

Em Mateus 1.20 encontra-se essa interessante expressão bíblica: "Enquanto assim decidia..." (Bíblia de Jerusalém). Noutra versão pode-se ler assim: "Enquanto ponderava nestas coisas" (Almeida Revista e Atualizada). Muito podemos aprender disso!

O silêncio e a ponderação podem ser as "plataformas" que Deus usará para falar ao nosso inquieto coração, sempre agitado pelas preocupações da vida. O ensino de Jesus foi: "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" (Mateus 6.34, Almeida Revista e Corrigida).


Conclusão

É sempre prudente ponderar antes de tomar decisões sérias. Uma escolha mal feita pode afetar toda uma trajetória. Agir por impulso pode desencadear tragédias pessoais e coletivas. Mas agir com ponderação, de forma refletida, pode contribuir para a tomada de decisões de maneira estratégica, contribuindo assim para produzir bons frutos e consequências positivas duradouras em nossas vidas.


Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad.: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

Bíblia de Jerusalém: nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2006.

KEENER, Craig S. Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento. Trad.: José Gabriel Said. Thomas Neufeld de Lima. São Paulo: Vida Nova, 2017.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad.: Catarina Eleonora F. da Silva. Jeanne Sawaya. 12ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2007.


segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Você está tocando para o público certo?

 

Por Roney Cozzer

Há alguns anos um experimento social muito interessante foi realizado com Joshua Bell, um famoso violinista estadunidense e um dos melhores do mundo! Ele foi convidado pelo jornal The Washington Post para tocar no metrô da cidade de Washington nos Estados Unidos. Convite que ele aceitou e de fato tocou no metrô por um pouco mais de 40 minutos, bem cedinho, quase às 8h, um horário de muito movimento no metrô.

O curioso é que ele arrecadou não mais que US$ 33, um valor significativamente inferior ao que as pessoas comumente pagam para ouvi-lo tocar e em ambientes bem mais confortáveis que um metrô super movimentado na cidade de Washington. Imagine só: um dos maiores violinistas do mundo, tocando o seu violino Stradivarius de 1713, avaliado em aproximadamente US$ 3,5 milhões, mas que passou praticamente despercebido! 

Mas, o que explica esse fato no mínimo curioso?

Uma possibilidade que me parece bem plausível é que ele estava tocando para o público errado, e no lugar errado. E dessa curiosa experiência podemos colher uma importante lição para nossas vidas e trajetórias (existencial, ministerial, profissional, relacional): talvez o problema não seja a qualidade do nosso trabalho, nem do conteúdo ou produto que entregamos, mas sim das pessoas a quem direcionamos nosso trabalho e/ou conteúdo!

Durante vários anos em minha vida, e por várias vezes, eu toquei meu Stradivarius precioso para pessoas que não mereciam ouvi-lo. Fato da vida! E está tudo bem. Não estaria bem se eu tivesse permanecido tocando ele para esse perfil de público. 

Aprendi a lição!

Hoje, sigo buscando tocar para o público certo. Convivi com pastores e gestores que não manifestaram o devido respeito ao meu talento e ao meu esforço. E quando convivemos com pessoas assim, somos tentados à frustração, à pensar que o problema somos nós e a qualidade do que estamos entregando. Mas não necessariamente! Pode ser que quem está ouvindo simplesmente não saiba (ou mesmo não queira!) apreciar a nossa música.

Ao constatar isso, passei a buscar novos públicos que valorizam minha música. Acomodar-se é perecer. Uma porta se fecha aqui, outra se abre ali. E vamos seguindo. Insistir em mais do mesmo é não sair do mesmo, e continuar sempre sofrendo as mesmas coisas. Se na Orquestra Sinfônica ou no metrô encontro quem aprecie minha música, é ali que quero estar. É mil vezes mais preferível estar onde minha presença é apreciada do que onde ela é suportada...

E foi assim, cônscio disso, que migrei, e continuo migrando: migrei de igreja, migrei de bairro e de cidades, migrei de relações, migrei de empregos e claro, migrei de mentalidade.



Sobre meu "desigrejamento": um balanço meses depois

Por  Roney Cozzer ,  teólogo e psicanalista. www.teologiavida.com Sempre busco manter fixa na minha mente o fato de que analisar um moviment...