quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Encontre o erro...



Ah, como eu amo apreciar a anatomia feminina! 

Alguém já escreveu que a anatomia fica muito bem nos seres humanos, especialmente nas mulheres. 

Concordo plenamente! 

Como um homem muito religioso que sempre fui, e de formação muito conservadora, fui ensinado a reprimir esse impulso natural de apreciação da anatomia feminina. Mas a certa altura da vida pude perceber que o que a religião tende a fazer mesmo é emascular os homens e assexualizar as mulheres. Tudo ou quase tudo que tem que ver com a nossa sexualidade é visto como pecado: o olhar, apreciar, desejar, masturbar-se e claro, transar. Aliás, transar é o pior dos pecados.

Rompi com essa cosmovisão. Felizmente, sigo transgredindo essa forma de ver e entender a sexualidade humana! Sigo de cá, religioso sim e másculo também. Sigo sem negar meu desejo, e usufruindo dele. Mas devo dizer que essa consciência não está divorciada de claros valores éticos. Se de um lado rejeito a forma esdrúxula como a religião trata a sexualidade humana, noutra mão, não deixo de pensar nas sérias implicações de coisificar o ser humano pelo sexo.

E foi justamente por entender assim que logo identifiquei o erro nessa foto aleatória com a qual me deparei no Instagram. 

Você também encontrou o erro? 

Na Pós-modernidade (ou, como diria o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, na Modernidade Líquida), o consumismo transcendeu os limites do usufruto necessário de bens e de serviços e invadiu a esfera das relações humanas. Com isso, o ser humano vem sendo coisificado, transformado em objeto, em produto

Sim, na Modernidade Líquida você pode comprar pessoas.

Quando vi o botão Ver produto logo abaixo da foto dessa linda mulher, não pude deixar de refletir sobre como as pessoas tem sido transformadas em objetos de compra e de venda nessa era líquida. E não menos preocupado fiquei com o fato de que normalizamos esses botões de Ver produto

Tudo isso, no entanto, tem sido o caminho para a desumanização e do esfacelamento dos laços sociais sólidos, tão benéficos à formação humana e ao bem-estar emocional. Minha tese é que essa tendência de ver o ser humano como objeto e de coisificá-lo tem produzido alguns fenômenos sociais minimamente bizarros, que comento a seguir e que ainda me intrigam.

As pessoas seguem de cama em cama, mas, paradoxalmente, não tem ninguém, de fato, ao seu lado, na vida. Os homens gabam-se das gostosas que "comeram", exibem fotos delas como se elas fossem troféus, enquanto as gostosas, por sua vez, gabam-se de mostrarem suas belas bundas e curvas na internet. Me vejo, por vezes, perguntando o que se deve esperar de uma mulher que só sabe exibir suas curvas na internet e nada mais que seja sobre si, sobre seus valores, sobre quem ela é para muito além de um corpo bonito (e o mesmo vale para homens!).

Nessa "oferta" narcísica de corpos nas mídias sociais, é como se as pessoas dissessem de maneira inconsciente: "Eu te consumo, você me consome e está tudo bem". Mas será que está mesmo tudo bem? Damos conta da fatura emocional decorrente desse tipo de consumismo e de utilitarismo nas relações? 

Suspeito que não.

E não caiamos no erro de pensar que a religião saiu incólume dessa tendência moderno líquida. Igrejas deixaram de ser, há muito tempo, comunidades e reduziram-se a coletividades e a eventos religiosos. A religião trata as pessoas de forma extremamente utilitária. 

Líderes religiosos gabam-se do número de membros de congregações que lideram e dos prédios que construíram com dinheiro de fiéis. Pouco se houve sobre relações humanas, ação social, solidariedade que nos move em direção ao outro. 

Suspeito que como nunca antes o movimento evangélico brasileiro ficou repleto de pastores que lideram rostos perdidos na multidão...

As consequências estão aí: filhos órfãos de pais vivos, mães que não são mães de fato, solidão em lugar de solitude, pessoas reféns da aparência e mergulhadas na própria futilidade, religiosidade sem sentido e sem laços, e que é alienante e que pouco tem a dizer sobre vida em comunidade. 

Seguimos, assim, descartando e sendo descartados. 

Frequentamos lugares cheios - cultos, festas, boates, etc. - mas estamos absolutamente solitários. Tal fato estabelece em nós uma angústia paradoxal. E as pessoas parecem não perceber que esse tipo de consumismo vai gradativamente consumindo-as...

Mas há esperança!

Penso que uma resposta possível a essa triste tendência consiste justamente em fazer o caminho contrário, buscando construir relações, fazendo amor mais do que transar, doar mais do que comprar e humanizar mais do que coisificar. 

Uma tarefa não tão fácil, mas possível e também recompensadora! 






segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Orando por Israel e pela Palestina também!

Por Roney Cozzer

A consciência cristã deve nos conduzir ao amor e ao ato de intercessão que não se condiciona a uma preferência étnica ou nacional. Essa consciência me move a orar pelo outro, pelo que sofre, seja ele israelense ou palestino. Numa guerra, ambos os lados cometem crimes de guerra, e ambos os lados sofrem terrivelmente, sobretudo a população civil e as crianças.

O Dispensacionalismo, no Brasil, prestou um enorme desserviço à mentalidade do povo cristão evangélico, intencionalmente ou não (Deus o sabe). Ele serviu para fomentar aquilo que tenho chamado de "xenofobia invertida". Instalou-se uma espécie de devoção ou mesmo idolatria ao povo israelense em função da leitura de determinados textos bíblicos que aludem a um Israel que nem existe mais, e ao custo de considerar questões de fundo histórico e político.

Como se sabe, a xenofobia é o preconceito contra outras etnias e povos. E por vezes ligada ao nacionalismo. Mas no caso dessa "xenofobia invertida" que se observa no universo evangélico, ocorre algo bizarro: valoriza-se e exalta-se uma nação que não é a sua e com a qual, por vezes, não se mantêm nenhum tipo de laço étnico ou mesmo cultural. É bizarro e até cômico, mas tornou-se uma prática comum em cultos evangélicos e nas mídias sociais de evangélicos! 

É comum ver pessoas que não possuem a mínima identificação cultural, histórica e étnica com Israel defender a nação e exaltá-la sobre outros povos por um viés religioso. E nessa esteira, árabes e muçulmanos são demonizados e por vezes vistos como os vilões da história a serem vencidos pelo "povo de Deus". 

Precisamos construir uma consciência que se paute pelo valor à vida, pelo amor à paz e ao respeito a todos os povos. O evangelho nos nivela. O evangelho ama a justiça e a imparcialidade. Em Cristo não há judeu, grego, bárbaro, escravo ou livre. Somos um só nele, e perante ele, há povos de todas as tribos e nações, como se pode ler no livro das Revelações. 

Lembremos que o mesmo Deus antigotestamentário que escolheu o povo hebreu é o mesmo que desejou salvar a ímpia cidade de Nínive. E de fato a amou e a poupou do juízo! É também o mesmo Deus que escolheu uma moabita para ser a ascendente do rei Davi e do próprio Jesus. E esse mesmo Deus precisa ser lido através do evento Cristo, o ponto alto da Revelação divina. Jesus derrubou as barreiras de separação entre dois povos (Ef 2), e esse mesmo Jesus nos convida hoje a amar as pessoas, não por sua nacionalidade ou orientação religiosa, mas por serem pessoas, por serem humanas, e porque amar é um exercício que nos humaniza.



 

Psicanálise, o eu e os outros: encantamento, "dilaceramento" e desenvolvimento da pessoa humana

Por  Roney Cozzer , teólogo e psicanalista. www.teologiavida.com A Psicanálise é uma ciência que surge em conexão direta com a área médica ,...