domingo, 28 de janeiro de 2024

Mateus 1.18-25: Ouvindo Deus na ponderação | Um devocional


Por Roney Cozzer

www.teologiavida.com


Introdução

A devoção requer ponderação. Ponderar sobre alguém, sobre uma situação ou sobre uma importante decisão a ser tomada requer humildade. E isso é bom! 

É fato que nem sempre podemos garantir a administração de todos os fatos da nossa vida. Nem sempre dará certo! Mas ponderar e agir com cautela aumenta as possibilidades de acerto.


1. Uma situação difícil e delicada

Com José aprendemos que, por vezes, a vida coloca situações difíceis para nós. E nem sempre são difíceis por razões questionáveis, mas também por razões legítimas e nobres. A situação delicada com a qual José estava lidando tinha que ver com nada menos que "a origem de Jesus Cristo" (Mateus 1.18).

No universo judaico antigo, "[...] o noivado [erusin] representava um vínculo mais forte do que a maioria dos compromissos equivalentes no mundo ocidental de hoje", e costumava durar um ano (KEENER, 2017, p. 47). 

Havia um compromisso estabelecido no noivado, que era muito sério! Relação sexual com outra pessoa durante esse período implicaria adultério (KEENER, 2017, p. 47). Craig S. Keener, biblista pentecostal, explica que "[...] na época do Novo Testamento, tudo que se exigiria de José seria que se divorciasse de Maria e a expusesse à vergonha" (KEENER, 2017, p. 47). 

José, no entanto, não quer fazer isso com Maria. Importa-se com ela. Ele cogita "[...] se divorciar de Maria sem tornar a vergonha dela ainda mais pública" (KEENER, 2017, p. 48). Mas ouvindo a mensagem de Deus, por meio de um anjo do Senhor, não acreditou que Maria tivesse tido relações sexuais com outro homem, e a acolheu, tornando-se, assim, o pai adotivo de Jesus.


2. José "nos ensina" sobre alteridade

José não pensa apenas em si mesmo, mas leva em conta outra pessoa que lhe era importante, nesse caso, Maria, a mãe do Salvador. Ele pondera, "sendo justo e não a querendo infamar" (Mateus 1.19). 

Vivemos tempos desafiadores. A incompreensão aumenta, nos lembra o educador Edgar Morin (MORIN, 2007). Os tempos são líquidos, diriam Zygmunt Bauman (2003). Nesses tempos líquidos e de incompreensão, o outro nem sempre ocupa nosso pensamento e preocupações. Aumenta o egoísmo e se esvai a alteridade. 

Com José podemos aprender que nossas decisões, por vezes (ainda que nem sempre), implicam sobre outras pessoas, positiva ou negativamente. Nem tudo que é sobre nós tem que ver exclusivamente conosco. Pensemos nisto.


3. Ouvindo Deus na ponderação

Em Mateus 1.20 encontra-se essa interessante expressão bíblica: "Enquanto assim decidia..." (Bíblia de Jerusalém). Noutra versão pode-se ler assim: "Enquanto ponderava nestas coisas" (Almeida Revista e Atualizada). Muito podemos aprender disso!

O silêncio e a ponderação podem ser as "plataformas" que Deus usará para falar ao nosso inquieto coração, sempre agitado pelas preocupações da vida. O ensino de Jesus foi: "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" (Mateus 6.34, Almeida Revista e Corrigida).


Conclusão

É sempre prudente ponderar antes de tomar decisões sérias. Uma escolha mal feita pode afetar toda uma trajetória. Agir por impulso pode desencadear tragédias pessoais e coletivas. Mas agir com ponderação, de forma refletida, pode contribuir para a tomada de decisões de maneira estratégica, contribuindo assim para produzir bons frutos e consequências positivas duradouras em nossas vidas.


Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad.: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

Bíblia de Jerusalém: nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2006.

KEENER, Craig S. Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento. Trad.: José Gabriel Said. Thomas Neufeld de Lima. São Paulo: Vida Nova, 2017.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad.: Catarina Eleonora F. da Silva. Jeanne Sawaya. 12ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2007.


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