quinta-feira, 30 de março de 2023

A clínica psicanalítica na atualidade 📚



“Fiz um esforço incessante para não ridicularizar, não lamentar, não desprezar as ações humanas, mas compreendê-las” (Baruch de Espinosa).

 


A clínica psicanalítica na atualidade leva em conta aspectos relevantes da sociedade que fazem parte do seu cotidiano, tais como o estresse do dia a dia nas grandes cidades, o impacto da mídia sobre o ser humano, a violência urbana, entre outros fatores importantes.[1] Na experiência de atendimento, no decorrer do tempo, o psicanalista vai tendo sua atenção atraída para os vários aspectos e variáveis que estão envolvidos nos transtornos que acometem seus atendidos, tais como síndrome do pânico, depressão, anorexia, etc., e essa observação o ajuda a compreender cada vez mais e melhor essas doenças e a entender o próprio paciente, com suas especificidades. 

Em muitos casos, o "paciente" não relata os fatos que o envolvem de maneira mais detalhada, com detalhes aprofundados, o que por si só já indica uma resistência por parte do analisando, o que é uma dificuldade a ser superada na clínica psicanalítica. Conceituar, com base teórica, os fenômenos clínicos que envolvem o atendimento podem ajudar muito no tratamento, inclusive na superação da resistência na clínica.

Sem dúvida que o tempo presente, com sua cultura e suas características próprias, é um fator decisivo na própria atuação do psicanalista na clínica e ele precisa considerá-lo. O próprio Sigmund Freud (1856-1939), "pai da Psicanálise", reconheceu ou demonstrou a existência de um elo constitutivo entre cultura e inconsciente. Outros autores também refletiram sobre o indivíduo, sobre a noção de "sujeito", como Jacques-Marie Émile Lacan[2] (1901-1981). E pensadores importantes como o sociólogo Zygmunt Bauman (1925-2017) refletiram sobre a época atual. Bauman se refere ao nosso tempo em termos de "Modernidade líquida". Com isto, ele está aludindo às incertezas e às inconstâncias da Pós-modernidade.

B. B. Fuks pontua que para Freud a cultura é “interioridade de uma situação individual – manifesta nos impulsos que vêm desde dentro do sujeito – e a exterioridade de um código universal, subjacente aos processos de subjetivação e aos outros regulamentos das ações do sujeito com o outro”.[3] O tema "cultura" interessou a Freud e ele alude ao assunto em suas obras, como no Mal-estar na civilização (1930).

Outro ponto importante a se considerar sobre a clínica psicanalítica é o fato de que a atuação do psicanalista vem se tornando atualmente tão relevante na saúde pública quanto na clínica privada, apesar das dificuldades decorrentes do fato da Psicanálise não ser regulamentada pelo Estado. Rita Meurer Victor e Fernando Aguiar comentam o seguinte:

 

Até a década de 1970, o campo de atuação da Psicologia era composto por duas dimensões principais: a primeira, constituída pela clínica particular, era exercida de forma autônoma; já a segunda, desenvolvida conforme o modelo de atenção predominante da época, o de internação e medicação... compreendia as atividades desempenhadas em hospitais e ambulatórios de saúde mental e subordinadas aos paradigmas da psiquiatria.[4]

 

A insatisfação com a medicina praticada até aquele tempo foi um dos fatores que contribuiu para o surgimento e aplicação da Psicologia da Saúde, gerando a necessidade de reexame nos tratamentos praticados. É importante pontuar que a Psicanálise esteve vinculada à Psiquiatria no Brasil na primeira metade do século passado. A criação de instituições psicanalíticas no Brasil foi um dos fatores que contribuiu para a separação entre Psicanálise e Psiquiatria. 

Freud, de certa, forma previu a presença da Psicanálise no ambulatório em Linhas de Progresso na Terapia Psicanalítica (1914/1974). Ele acreditava que a sociedade haveria de despertar para a necessidade de oferecer escuta analítica a toda a população sem seletividade. Ele mesmo cogitou a possibilidade de criar instituições que atenderiam aos pacientes que não tinham condições de pagar pelo atendimento. Já em 1920 surge o Instituto Psicanalítico de Berlim, fundado por Karl Abraham, Max Eitingon e Ernst Simmel, onde tratamentos terapêuticos foram oferecidos gratuitamente e alguns pagos, mas de acordo com as possibilidades do paciente. O Instituto Psicanalítico de Berlim serviu de modelo para muitas outras instituições psicanalíticas.

Interessante também considerar em nosso texto a relação da clínica psicanalítica e a educação, uma relação possível da qual podem surgir contribuições variadas. Essa relação – Psicanálise e Educação – não é inédita; vem desde os primórdios da própria Psicanálise, com o seu fundador, Sigmund Freud:


Quando os educadores se familiarizarem com as descobertas da psicanálise, será mais fácil se reconciliarem com certas fases do desenvolvimento infantil e, entre outras coisas, não correrão o risco de superestimar a importância dos impulsos instintivos socialmente imprestáveis ou perversos que surgem nas crianças. Pelo contrário, vão se abster de qualquer tentativa de suprimir esses impulsos pela força, quando aprenderem que esforços desse tipo com frequência produzem resultados não menos indesejáveis que a alternativa, tão temida pelos educadores, de dar livre trânsito às travessuras das crianças.[5]

 

Embora o próprio Freud não tenha produzido extensamente artigos sobre Educação, demonstrou franco interesse pelas conexões possíveis entre a Psicanálise e a Educação. Apesar da resistência de alguns durante os anos, a Psicanálise e a Educação vem unindo seus saberes, no sentido de conhecer melhor o funcionamento do ser humano. Vários fatores são considerados nessa relação: a terapêutica na educação, o déficit de atenção nas crianças e adolescentes, o prazer em aprender, a linguagem e suas nuances, o desenvolvimento humano, dentre outros temas que podem receber contribuições teóricas da Psicanálise. Importante pontuar ainda que essa relação possível entre Psicanálise e Educação proveu mudanças tanto no corpo teórico da Psicanálise como na Educação, entendida como discurso social.

Na atualidade, diversos fatores são preponderantes na relação da Psicanálise com a Educação: a transferência que acontece entre aluno e professor, a pulsão do saber, a afetividade, o acesso ao simbólico e as identificações.[6] Com relação à transferência, o próprio Freud reconheceu que esse é um fenômeno que se dá ou se encontra em todas as relações humanas, mas na Educação funciona como uma espécie de exposição do interior do ser humano. É interessante notar que essa transferência – do aluno em direção ao professor – pode ser usada pelo educador para melhorar o nível de aprendizado dos seus educandos. Mas é claro, para que isso venha a acontecer, o primeiro passo é a identificação da ocorrência desse fenômeno psíquico. Seria interessante treinar professores a fim de que eles estejam habilitados a fazer essa identificação, bem como realizar a contratransferência. Como se poder notar, é perfeitamente possível uma relação estreita e colaborativa entre Educação e Psicanálise. Mas é claro, esse é um exemplo.

No âmbito desta reflexão, deve-se considerar que a fala é um elemento integrante da comunicação, e a comunicação, por sua vez, é um elemento fundante da psique humana. Nesse sentido, é correto afirmar que a Psicanálise poderá ser muito útil ao educador e também ao educando visto que ela pode explorar a fala no conjunto da comunicação como uma forma ou meio de abrir caminhos a fim de tornar acessível o conteúdo.[7]

Ainda na questão da transferência aluno-professor ou vice-versa, o professor, neste caso, precisa ter o devido cuidado para não impor ao aluno o seu próprio desejo, sufocando assim a capacidade do aprendiz de elaborar por si mesmo. Mas se o mestre não tem desejo nenhum em relação ao aluno, isso também é prejudicial, podendo por em risco a constituição do educando no processo de ensino-aprendizagem.

No contexto desta abordagem, é importante frisar que a educação aliada à psicanálise pode ter uma função terapêutica. O grande desafio de cuidar de crianças psicóticas e autistas pode ser minimizado com recursos oferecidos pela psicanálise. Para que este trabalho seja desenvolvido de maneira eficaz, é preciso que se tenha consciência de que ali, na escola, estão seres humanos, e que se explore ou tire proveito ao máximo dos potenciais terapêuticos no processo educacional. Para M. C. M. Kupfer (1997), a Educação Terapêutica se apoia em torno de três eixos: 1. a inclusão social, 2. o eixo simbólico e, 3. a operação educativa propriamente dita. No primeiro eixo, o da inclusão social, ele inclui vários elementos tais como a política da inclusão social e a luta antimanicomial. “O segundo eixo traz a possibilidade de essa criança operar verdadeiramente na dimensão simbólica, no qual se acentuam as ‘relações estruturais que articulam sexualidade e conhecimento, sujeito e Eu, significante e palavra’”.[8]

Esses e outros temas perpassam a questão da clínica psicanalítica na contemporaneidade. Vale considerar também o que tem sido observado por autores como um avanço e propagação de medicação farmacológica e a apresentação disso como a única saída terapêutica contra o sofrimento psíquico das pessoas. No texto O silêncio do sujeito: medicalização, de Cleide Monteiro, a autora pontua o seguinte:

 

[...] a maciça medicalização que os avanços farmacológicos propagam como única terapêutica eficaz contra o sofrimento psíquico silencia a angústia, fornecendo um aparente bem-estar que, por sua vez, passa a ser o ideal de felicidade. Um desafio que a prática psicanalítica já tem enfrentado e, como pode ser depreendido do artigo em questão, se refere à necessidade premente de “fazer falar” este sujeito calado por intervenções químicas. Nesse sentido, a Psicanálise se coloca como uma possibilidade de afirmação do sujeito, do conflito psíquico que lhe é inerente e da aposta na manutenção da experiência subjetiva.[9]

 

Esse espaço para a Psicanálise na clínica atual deve ser encarado como um espaço de escuta do paciente que pode produzir uma melhora significativa em seu quadro médico. Pensar o sujeito psíquico em conexão com o seu corpo é uma saída para vários problemas somáticos, como se reconhece atualmente na medicina. 

Um indicador desse reconhecimento é a maior atuação, embora ainda muito tímida face à demanda, de profissionais da Psicologia em hospitais e clínicas, além do desenvolvimento de ciências voltadas à essa área, como a Psico-oncologia. Diante do exposto, vale pensar também na atualidade da Psicanálise em nosso tempo. Podemos citar como exemplo de um problema bem atual a anorexia. Em nossa cultura que supervaloriza a imagem e estabelece determinados padrões estéticos, aquelas e aqueles que não conseguem, por uma razão ou outra, se enquadrar dentro dos ditames da “ditadura da beleza”, podem ser “atraídos” para fatores que culminam nos resultados nada atraentes da anorexia. A anorexia é, na verdade, uma exploração no campo psicológico do narcisismo e do consumismo.

Considerando a atualidade da Psicanálise, incluem-se discussões sobre a sexualidade nos moldes em que se propaga hoje, especialmente pela mídia. Se vê uma espécie de consumismo sexual nas relações sociais.

 

[...] os desafios clínicos que a Psicanálise vê diante de si, na contemporaneidade, têm sua base em uma articulação da banalização da perversão com a hegemonia do registro econômico sobre o sujeito no mundo atual. Esta ideia está na mesma direção da análise de Milnitzky sobre as relações de consumo na atualidade, uma vez que este autor também acredita que “em vez de empregar as forças libidinais insatisfeitas no trabalho, conforme postula Freud, a nova gramática libidinal exige que a saciedade erótica se realize no prazer de consumir”. Mas como tudo isso se dá a ver? Por meio dos fenômenos de compulsão à repetição e de masoquismo erógeno... como exemplificam as destruições intencionais do corpo e a existência de uma relação com a lei cada vez mais frouxa, sem qualquer conotação de transgressão, tão comuns nos dias de hoje.[10]

 

Os psicanalistas, frente aos desafios contemporâneos, devem se empenhar em ouvir o sujeito, explorar conceitos e considerar o que as várias propostas psicanalíticas oferecem, a fim de bem desenvolver, clínica e teoricamente, os diversos problemas que acometem as pessoas na Pós-Modernidade (ou na Modernidade Líquida, como diria Bauman). É consenso que a interpretação da cultura é fundamental para interpretar o indivíduo, pois o indivíduo é parte da cultura. Essa foi a proposta de Freud, embora essa proposta tenha sido rejeitada por muitos ou ao menos criticada por cientistas sociais. Uma série de fatores confluentes são decisivos para justificar o resgate da interpretação psicanalítica no contexto da cultura com as suas nuances e particularidades.


Referências


[1] Como o fator religioso, inclusive, numa abertura ao fato de que a religiosidade praticado pelo indivíduo tem um peso definitivo sobre sua saúde emocional.

[2] Mais conhecido como Jacques Lacan, foi um dos principais intérpretes de Freud. Desenvolveu uma teoria própria na Psicanálise. Para uma análise da sua reflexão sobre o conceito de "sujeito", cf.: BARROSO, Adriane de Freitas. Sobre a concepção de sujeito em Freud e Lacan. Barbaroi,  Santa Cruz do Sul ,  n. 36, p. 149-159, jun.  2012 .   Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-65782012000100009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  05  abr.  2023.

[3] FUKS, B. B. Freud e a cultura. Rio de Janeiro: JZE, 2003.

[4] VICTOR, Rita Meurer. AGUIAR, Fernando. A clínica psicanalítica na saúde pública: desafios e possibilidades. Psicol. cienc. prof. vol.31 no. 1 Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932011000100005> Acesso em 19 set. 2019.

[5] FREUD, Sigmund. apud: RIBEIRO, Maviane Vieira Machado. NEVES, Marisa Maria Brito da Justa. A educação e a psicanálise: um encontro possível? Psicol. teor. prat. v. 8 n.2 São Paulo dez. 2006. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872006000200008> Acesso em 19 set. 2019.

[6] KUPFER, M. C. M. apud NEVES, M. M. B. da J. ALMEIDA, S. F. C. de. Relação professor-aluno: um enfoque sob o ponto de vista de alguns conceitos psicanalíticos. inI Congresso Internacional de Psicanálise e suas Conexões – Trata-se uma criança. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1998 apud RIBEIRO, Maviane Vieira Machado. NEVES, Marisa Maria Brito da. A educação e a psicanálise: um encontro possível? Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-36872006000200008&script=sci_arttext> Acesso em 03 jan. 2014.

[7] Não estou pressupondo, em hipótese alguma, que todo educador deva ser um psicanalista, mas sim reconhecendo que o conhecimento especializado em Psicanálise pode oferecer, de modo muito concreto, contribuições ao trabalho educativo e que esse diálogo – Educação e Psicanálise – pode oferecer contribuições mútuas.

[8] NEVES, M. M. B. da J.; ALMEIDA, S. F. C. de. Relação professor-aluno: um enfoque sob o ponto de vista de alguns conceitos psicanalíticos. InI Congresso Internacional de Psicanálise e suas Conexões – Trata-se uma criança. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1998 apud RIBEIRO, Maviane Vieira Machado. NEVES, Marisa Maria Brito da. A educação e a psicanálise: um encontro possível? Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-36872006000200008&script=sci_arttext> Acesso em 03 jan. 2014.

[9] MENDONÇA, Marinella Morgana. Clínica psicanalítica e atualidade: diversas faces do mal estar. Disponível em: <http://revistapercurso.uol.com.br/index.php?apg=artigo_view&ida=261&ori=edicao&id_edicao=37> Acesso em 13 jan. 2014.

[10] MENDONÇA, Marinella Morgana. Clínica psicanalítica e atualidade: diversas faces do mal estar. Disponível em: <http://revistapercurso.uol.com.br/index.php?apg=artigo_view&ida=261&ori=edicao&id_edicao=37> Acesso em 13 jan. 2014.


Roney Cozzer

FONTE: COZZER, Roney Ricardo. Enciclopédia teológica numa perspectiva transdisciplinar. vol. 1. São Paulo: Editora Reflexão, 2020.


quarta-feira, 29 de março de 2023

Crítica Textual

Crítica Textual da Bíblia

A Crítica Textual, também chamada de Manuscritologia Bíblica, é uma importante área de estudos que serve, inclusive, para alimentar outras áreas de pesquisa bíblica, como a Exegese Bíblica e a Tradução Bíblica.
Ela cataloga os manuscritos da Bíblia. Essa classificação se dá em:

  • Papiros;
  • Unciais (que são os maiúsculos);
  • Cursivos (que são os minúsculos);
  • Lecionários.
Ela leva em conta também os manuscritos dos chamados Pais da Igreja, ainda que em menor importância. Esses manuscritos fazem citações de textos do Novo Testamento por esses primeiros teólogos cristãos. Essas citações são chamadas de "citações patrísticas".

O que são os tipos/famílias textuais?

São “[...] tipos específicos de texto, que se caracterizam, sobretudo, por apresentarem tendências homogêneas na transmissão do texto e por derivarem, em regra, de recensões feitas em centros expressivos de difusão do cristianismo” (WEGNER, 1998, p. 64). Os manuscritos são assim enquadrados nos diferentes tipos.

  • Texto Alexandrino: Papiros א, B, 46, 66, 75, etc.;
  • Texto Ocidental: Papiros 5, 8, D, E, F, G, etc.;
  • Texto Cesareense: Papiros 37, 45, etc.;
  • Texto Bizantino (também chamado de Majoritário, Koiné ou Sírio): Papiros 42, 68, etc.

Deve-se considerar que existem as famílias (tipos) textuais, como se segue:

  • Textus Recptus: versão do Novo Testamento produzida por Erasmo de Rotterdam, que serviu de base para a impressão de 750 edições do texto grego do Novo Testamento, entre os anos de 1514 e 1870, dentre elas a Bíblia de Lutero, Tyndale e a King James;
  • Texto Crítico (ou Eclético): é o texto que considera as variantes textuais descobertas depois de 1500, desconhecidas por Erasmo, e textos descartados por ele, e claro, os manuscritos mais recentes (descobertos mormente a partir de 1950).


Referências

COZZER, Roney Ricardo. Enciclopédia Teológica numa perspectiva transdisciplinar. São Paulo: Editora Reflexão, 2020.

WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento: manual de metodologia. São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Paulus, 1998.





ENCICLOPÉDIA 📚

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Crítica Textual da Bíblia



Exegese



Hermenêutica



A Palavra de Deus escrita chega a todas as gerações e culturas (Resumo de capítulo) ✍🏻


RESUMO DO CAPÍTULO 5 DA OBRA: LIMA, M. L. C. A Palavra de Deus em palavras humanas: para ler e compreender a Escritura. São Paulo: Paulinas, 2020, p. 107-132.


Roney Cozzer


RESUMO


A obra A Palavra de Deus em palavras humanas (2020) é estruturada em sete capítulos, sendo o quinto capítulo (p. 107-132) dedicado a analisar o texto bíblico (detalhes, características, fundo histórico), a questão da transmissão textual da Bíblia, por meio de seus manuscritos, e considera ainda o trabalho da Crítica Textual. Um capítulo muito importante no escopo geral da obra. 

O capítulo oferece importantes informações relativas ao desenvolvimento (formação) e características do texto do Antigo Testamento e do texto do Novo Testamento. Destaca-se ainda o trabalho dos soferîm (estudiosos judeus) em torno da integridade do texto do Antigo Testamento, trabalho que durou séculos (do séc. I ao VI d.C.). Esse texto é assim considerado como proto-massorético. Depois desse período, tem lugar a época dos massoretas, que se estende do século VI ao X d.C. 

Os massoretas foram os responsáveis por introduzir no texto hebraico consonantal sinais de vocalização. Esse texto, portanto, que veio a ser desenvolvido pelos massoretas, é o que ficou conhecido como o texto massorético. Destacam-se os manuscritos que são considerados os mais importantes desse período dos massoretas: o Códice dos Profetas do Cairo (895/896 d.C.); o Códice Alepo (925/930 d.C.) e o Códice Leningradense (1008/1009 d.C.).

O Códice Leningradense foi o manuscrito que serviu de base para as edições críticas da Bíblia Hebraica no século XX: a Bíblia Hebraica de Kittel (1937), e a Bíblia Hebraica Stuttgartensia (1966 a 1976). A Bíblia Hebraica Quinta que está sendo preparada, com alguns volumes já publicados, é baseada na Stuttgartensia. Conquanto a autora não tenha mencionado, vale destacar que a Bíblia Hebraica Quinta emprega também as contribuições de outros textos, como os textos de Qumran. 

Sobre a Quinta, Edson de Faria Francisco comenta que ela dá continuidade à tradição da Bíblia Hebraica e será uma edição crítica menor “[...] do texto bíblico hebraico e trará uma seleção de casos mais relevantes de crítica textual que servirão, principalmente, para tradução e exegese” (FRANCISCO, 2005, p. 60). E o mesmo autor informa que diversas contribuições oriundas das novas descobertas no campo da Crítica Textual e da disponibilidade de manuscritos bíblicos têm sido empregadas nessa nova edição em andamento (FRANCISCO, 2005, p. 60).

Outra importante contribuição desse quinto capítulo da obra de Lima (2020) é a descrição que a autora faz de importantes versões da Bíblia, como a Septuaginta (LXX ou Setenta), a versão de Teodocião (que “[...] parece não ser propriamente uma tradução, mas o texto da Setenta retocado a partir do texto hebraico” [LIMA, 2020, p. 118]) e a Héxapla de Orígenes. A autora oferece informações também sobre as versões aramaicas, chamadas de targumim (plural de targum, que significa “interpretação”) e sobre versões latinas, incluindo-se, é claro, a Vulgata Latina.

Concluindo, a autora discorre sobre a transmissão textual dos livros bíblicos, o que implica, naturalmente, considerar os manuscritos da Bíblia. São explicitados também conceitos técnicos importantes no âmbito da Crítica Textual, que é justamente este estudo em torno dos manuscritos bíblicos. A autora apresenta diversos exemplos práticos de questões de Crítica Textual do Antigo Testamento, o que, a meu ver, facilita a compreensão desses aspectos mais técnicos da área. Conclui oferecendo explicação de critérios que são utilizados na escolha de uma variante textual no estabelecimento de determinado texto.


REFERÊNCIAS


FRANCISCO, Edson Faria de. A nova edição da Bíblia Hebraica: Bíblia Hebraica Quinta: texto, aparato crítico e massorá. Revista Caminhando. vol. 9, n. 1, 2005, p. 57-69.

LIMA, Maria de Lourdes C. A Palavra de Deus em palavras humanas: para ler e compreender a Escritura. São Paulo: Paulinas, 2020.


Escolas de interpretação escatológica

  Existem três linhas ou escolas de interpretação da doutrina das últimas coisas que são comumente estudadas entre os evangélicos. É inter...