Fonte da imagem: Bibotalk. [Site]. Disponível em: <https://bibotalk.com/podcast/aconselhamento-cristao-e-psicoterapia-btcast-443/>. Acesso em 29 mai. 2023.
Roney Cozzer
No estudo das questões de saúde mental e psicológica, é possível estabelecer diálogo com diversos campos do saber. Não constitui exagero afirmar que, na verdade, é mesmo uma necessidade buscar contribuições teóricas de outras ciências. Esse diálogo possibilita ao profissional da Psicologia e/ou Psicanálise considerar diferentes perspectivas, e uma perspectiva não menos importante é a teológica. A Teologia, numa abordagem protestante, tem sido definida como “[...] a ciência de Deus e das relações
entre Deus e o universo” (STRONG, 2003, p. 21). O uso do termo “teologia” é muito
antigo e refere-se à natureza de Deus, aos seus atributos e sua ação no mundo,
tal como descritos nas Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada.
Na Idade Média,
a Teologia foi entendida como “A rainha das ciências”, e teólogos sistemáticos
como Augustus H. Strong, acima citado, chegam mesmo a reforçar, em certa
medida, essa compreensão a respeito da Teologia: “[...] A teologia é a “ciência
das ciências”, não no sentido de incluir todas estas, mas no de empregar os
seus resultados e mostrar a sua base subjacente” (STRONG, 2003, p. 21). E mais
adiante, o mesmo autor chega a afirmar que “[...] todas outras ciências exigem
a teologia para sua explicação completa” (STRONG, 2003, p. 21).
É preciso
destacar que dificilmente os cientistas que trabalham com as “outras ciências”,
como citado por Strong, concordariam com esta afirmação. Atualmente, nota-se
uma clara separação entre os campos científicos do religioso e teológico. Isso
não implica, necessariamente, ausência de diálogo entre essas ciências e suas
disciplinas, apenas que se busca manter as especificidades de cada área de estudo
e reconhecer, inclusive, as distinções existentes entre seus objetos de estudo.
Numa discussão
como a que é levantada neste artigo, reconhece-se que a contribuição teológica é importante,
muito importante. Sobretudo porque o teólogo é, geralmente, aquele estudioso
que analisa de dentro e fala de dentro. Ele não é ou não costuma ser um interlocutor
externo a refletir de fora sobre problemas da religião e da instituição religiosa, como acontece na Sociologia, por exemplo, em que sociólogos refletem sobre a religião sem manterem qualquer pertença religiosa. No estudo de determinado tema, relativo a um campo de estudos e a um
grupo social e religioso, é preciso ouvir essas vozes internas.
A religião, na
tradição cristã protestante (para fazer um recorte), é vista em termos de uma
espécie de sistema unificado de verdades que conduzem o homem a Deus, ou que
são entendidas para que ele possa realizar esse percurso de mobilidade em
direção a Deus. Essas verdades encontram seu ápice na pessoa de Jesus e em seu
ensino. O "evento Cristo" é o ponto alto da Revelação divina à humanidade.
Naturalmente, em
outras religiões, não cristãs, a compreensão do que é a religião vai mudar em
determinados aspectos. Sendo o Brasil um país majoritariamente composto por
cristãos, essa definição, oferecida acima, se coloca como útil para se refletir
sobre o impacto da religiosidade e da espiritualidade sobre a construção –
entenda-se “busca” – do sentido da vida.
Com efeito, a
Teologia reflete sobre os aspectos que envolvem e caracterizam determinada
religião, mas não necessariamente ao modo das Ciências da Religião, uma vez que
na Teologia está presente o elemento confessionalidade. Como mencionado antes,
o teólogo fala de dentro, a partir do interior de uma religião e, não poucas vezes, vivencia ele mesmo a fé que é objeto de estudo da Teologia, estando diretamente
ligado ao seu objeto de estudo e com ele envolvido.
Interessante
considerar que essas diferentes perspectivas para a religião evidenciam a
diversidade de compreensões a respeito dela. Por vezes, no bojo dessas
diferentes compreensões, encontram-se epistemologias comuns, que se encontram
em alguma medida, e que conflitam. Com efeito, há compreensões que colidem e
não se harmonizam. Enquanto um teólogo diria que “a fé é conhecimento e o mais
elevado tipo de conhecimento” (STRONG, 2003, p. 23), um cientista, de outra
área qualquer, certamente encontraria dificuldade em assimilar esta afirmação
de pronto.
Todavia, é possível estabelecer diálogo entre saberes e usar aportes de diferentes campos de conhecimento com vistas a ampliar a qualidade do atendimento psicológico. Um indivíduo pode procurar ajuda psicológica em função de questões ministeriais, eclesiais e religiosas. O psicólogo ou psicanalista, mesmo instrumentalizado pela Psicologia ou Psicanálise para a realização/aplicação de uma terapia, poderá melhor compreender as demandas do cliente se dispuser de conhecimento sobre as questões que o perpassam e assim definir abordagens.
Referências
STRONG, Augustus H. Teologia Sistemática. vol. 1. Trad.: Augusto Victorino. São Paulo: Hagnos, 2003.