segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Orando por Israel e pela Palestina também!

Por Roney Cozzer

A consciência cristã deve nos conduzir ao amor e ao ato de intercessão que não se condiciona a uma preferência étnica ou nacional. Essa consciência me move a orar pelo outro, pelo que sofre, seja ele israelense ou palestino. Numa guerra, ambos os lados cometem crimes de guerra, e ambos os lados sofrem terrivelmente, sobretudo a população civil e as crianças.

O Dispensacionalismo, no Brasil, prestou um enorme desserviço à mentalidade do povo cristão evangélico, intencionalmente ou não (Deus o sabe). Ele serviu para fomentar aquilo que tenho chamado de "xenofobia invertida". Instalou-se uma espécie de devoção ou mesmo idolatria ao povo israelense em função da leitura de determinados textos bíblicos que aludem a um Israel que nem existe mais, e ao custo de considerar questões de fundo histórico e político.

Como se sabe, a xenofobia é o preconceito contra outras etnias e povos. E por vezes ligada ao nacionalismo. Mas no caso dessa "xenofobia invertida" que se observa no universo evangélico, ocorre algo bizarro: valoriza-se e exalta-se uma nação que não é a sua e com a qual, por vezes, não se mantêm nenhum tipo de laço étnico ou mesmo cultural. É bizarro e até cômico, mas tornou-se uma prática comum em cultos evangélicos e nas mídias sociais de evangélicos! 

É comum ver pessoas que não possuem a mínima identificação cultural, histórica e étnica com Israel defender a nação e exaltá-la sobre outros povos por um viés religioso. E nessa esteira, árabes e muçulmanos são demonizados e por vezes vistos como os vilões da história a serem vencidos pelo "povo de Deus". 

Precisamos construir uma consciência que se paute pelo valor à vida, pelo amor à paz e ao respeito a todos os povos. O evangelho nos nivela. O evangelho ama a justiça e a imparcialidade. Em Cristo não há judeu, grego, bárbaro, escravo ou livre. Somos um só nele, e perante ele, há povos de todas as tribos e nações, como se pode ler no livro das Revelações. 

Lembremos que o mesmo Deus antigotestamentário que escolheu o povo hebreu é o mesmo que desejou salvar a ímpia cidade de Nínive. E de fato a amou e a poupou do juízo! É também o mesmo Deus que escolheu uma moabita para ser a ascendente do rei Davi e do próprio Jesus. E esse mesmo Deus precisa ser lido através do evento Cristo, o ponto alto da Revelação divina. Jesus derrubou as barreiras de separação entre dois povos (Ef 2), e esse mesmo Jesus nos convida hoje a amar as pessoas, não por sua nacionalidade ou orientação religiosa, mas por serem pessoas, por serem humanas, e porque amar é um exercício que nos humaniza.



 

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