TEXTO BÍBLICO BASE: Lucas 15.11-32 (versão adotada neste esboço: Nova Versão Internacional).
Roney Cozzer 👨🏻🎓📚
SUMÁRIO HOMILÉTICO
1. O CONCEITO DE PARÁBOLA E SUA UTILIZAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO... E AQUI
1.1 Jesus narra cerca de 44 parábolas;
1.2 Ampla utilização no Novo Testamento;
1.3 Parábolas como gênero literário e a importância do gênero literário na Bíblia;
1.4 Sentido do termo "parábola".
2. NEM SEMPRE UMA CONDIÇÃO ESTÁVEL E DE CONFORTO É GARANTIA DE DIAS MELHORES
2.1 O filho pródigo: da casa do pai à escassez de pão;
2.2 Profeta Elias: da oração respondida à depressão profunda;
2.3 Jesus: de ouvir a voz de Deus e ser aprovado por Ele para o deserto a fim de ser tentado pelo diabo;
2.4 Dias bons também requerem prudência!
3. "UMA REGIÃO DISTANTE"
3.1 Nem sempre ir para longe removerá a distância que está em nosso coração;
3.2 O filho mais velho estava distante mesmo nunca tendo saído de casa.
4. "CAINDO EM SI..."
4.1 Olhar para dentro;
4.2 Não atribuir culpa a outros pelos próprios erros;
4.3 Reconhecer quem você é: "e eu aqui, pereço...";
4.4 Tomar atitude.
INTRODUÇÃO
A passagem da Parábola do Filho Pródigo, no Evangelho de Lucas, é, certamente, uma das passagens do Novo Testamento mais emblemáticas e amadas pelos cristãos. Ela é uma das 44 parábolas narradas por Jesus nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) (COZZER, 2020, p. 461).
1. O CONCEITO DE PARÁBOLA E SUA UTILIZAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO... E AQUI
As parábolas foram amplamente utilizadas por Jesus em seu ministério. Em linhas gerais, as parábolas visavam ser usadas como recurso didático para ensinar ao povo as verdades relativas ao Reino de Deus. Noutro trabalho comento que a "[...] palavra "parábola" é originária do vocábulo grego parabolé e significa 'colocar uma coisa ao lado da outra; comparação'" (COZZER, 2020, p. 461).
Em nosso estudo, buscaremos extrair algumas lições possíveis para a vida cristã. Mas não ao custo da preocupação com o sentido exegético desta rica perícope bíblica. É preciso ter claro que "do ponto de vista da Hermenêutica, a ciência da interpretação bíblica, é uma narrativa alegórica constituída de personagens, coisas, incidentes e atitudes que, através de comparações, facilita a compreensão de realidades que se acham além do nosso entendimento" (COZZER, 2020, p. 461).
2. NEM SEMPRE UMA CONDIÇÃO ESTÁVEL E DE CONFORTO É GARANTIA DE DIAS MELHORES
É muito interessante pensar que o filho mais novo, o pródigo, decide sair de casa vivendo em um ambiente favorável e acolhedor. A parábola nos permite deduzir que ele era amado por seu pai. Isso pode ser inferido pela forma como o pai o recebe, quando ele retorna, e pela festa que realiza para aquele filho que estava morto, mas havia revivido. E que ele vivia em boas condições pode ser depreendido, inclusive, pela conclusão a que ele mesmo chegará mais tarde, de que os empregados de seu pai eram tratados bem melhor e viviam em melhores condições do que aquelas nas quais agora ele se encontrava, cuidando de porcos.
Nem sempre chegamos a uma situação de tragédia pessoal e de sofrimento em função de termos sido submetidos a condições que, de algum modo, tenham favorecido nossa chegada a essa situação difícil. Num certo sentido, momentos de calmaria e de prosperidade em nossa vida podem exigir tanta cautela quanto as situações difíceis. A ruína de Sansão começa quando ele dorme confortável nos braços de Dalila, a de Judas quando ele recebe dinheiro (30 moedas de prata); o naufrágio do Titanic começou quando seus engenheiros concluíram que nada poderia afundá-lo e o filho pródigo inicia sua ruína quando ainda estava no conforto e segurança da casa de seu pai...
Por vezes, a sedução de determinadas tentações dessa vida podem nos parecer, a princípio, muito atraentes e sedutoras, mas que podem conduzir a um fim muito danoso. A riqueza, tão desejada por muitos, pode servir à ganância humana. A experiência ministerial e profissional pode servir à arrogância e insensibilidade humana. Por isso, tempos de bonança e prosperidade requerem também de nós prudência e que nosso coração seja guardado.
3. "UMA REGIÃO DISTANTE"
Depois de pedir ao pai a sua parte na herança, o filho mais reuni tudo o que tinha e vai para "uma região distante", como lemos em 15.13. Não há um indicativo claro, na parábola, de que região seria essa, mas isto de fato não importa, uma vez que fica claro que ele se distancia da casa do pai, que é a sua casa, e vai gastar sua herança nesse lugar distante.
Essa "região distante" inclui amigos com os quais ele esbanjou seus recursos, inclui prazeres e inclui algum nível de status. Mas, posteriormente, irá incluir também a ausência do pai, a ausência da família e depois, vai incluir a pobreza extrema: "Ele desejava encher o estômago com as vagens de alfarrobeira que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada" (Lc 15.16).
Quantos de nós não estão vivendo também nessa "região distante", que não necessariamente é um lugar em termos geográficos, mas pode ser uma região distante em termos existenciais, espirituais, relacionais ou emocionais. Estando no meio, estamos distantes. Solitários em meio a uma multidão, prosseguimos cumprindo uma rotina, até nos darmos conta de que precisamos de ajuda, de que chegamos numa condição extrema, em que ninguém pode nos dar o que precisamos: "... mas ninguém lhe dava nada" (Lc 15,16).
4. "CAINDO EM SI..."
Em minha opinião, esta é uma das mais lindas expressões do Novo Testamento. "Cair em si" é, certamente, uma das mais profundas experiências existenciais que podemos ter. "Cair em si", para o filho pródigo e para nós, assume o significado de olhar para dentro, para si mesmo.
É muito interessante pensar que esse filho, dando-se conta da situação terrível a que havia chegado, não culpa o processo, não culpa o seu pai, não culpa o seu irmão mais velho, não culpa as pessoas com as quais havia gastado sua herança e nem culpa o dono das terras que o havia colocado para cuidar dos porcos. Ao contrário disso, o filho pródigo cai em si, reflete e chega a uma conclusão. Mas não apenas isto: ele toma atitude: "Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi..." (Lc 15.18).
Temos a tendência de transferir para os outros a responsabilidade pelos nossos fracassos. O casamento que acaba nunca é porque eu tenha falhado em alguma medida, mas a culpa é sempre do meu cônjuge; o fracasso de uma amizade é sempre responsabilidade do amigo que falhou comigo; a crise da Igreja é sempre e unicamente responsabilidade dos líderes e dos crentes, sem qualquer participação minha - eu não sou parte desse problema!
Enfim, sempre estamos a transferir para o outro, e para os outros, a nossa responsabilidade na mudança que nós mesmos desejamos. Despendemos energias com isso. O filho pródigo, no entanto, está a nos ensinar e a inspirar com seu exemplo. Ele diz a si mesmo: "E eu aqui... Me porei a caminho... voltarei para meu pai... lhe direi" (Lc 15.17,18). E ele não apenas diz, ele faz: "A seguir, levantou-se e foi para seu pai..." (Lc 15.20). Quanta atitude em tão poucos versículos!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É maravilhoso pensar em como esta mensagem é atual, em certo sentido. A Palavra de Deus prossegue como uma mensagem de esperança, [re]orientação, exortação e consolo, além de nos ajudar a corrigir nossa rota.
Esta parábola nos ensina também que na impossibilidade de mudar nosso passado, ou de refazer uma trajetória, podemos definir uma nova rota e construir uma nova história, marcada pela presença do Pai e do seu amor. Aprendamos com o exemplo desse filho, que depois de cair em si (olhar para dentro de si mesmo) disse e agiu rumo ao lugar de onde nunca deveria ter saído.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Nova Versão Internacional. The Word. [Software]. Versão 3.1.4.1058. 2003-2010.
COZZER, Roney R. Enciclopédia teológica numa perspectiva transdisciplinar. Vol. 2. São Paulo: Editora Reflexão, 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário