TEXTO BÍBLICO BASE: Lucas 15.11-32 (versão adotada neste esboço: Nova Versão Internacional).
Roney Cozzer 👨🏻🎓📚
INTRODUÇÃO
A passagem da Parábola do Filho Pródigo, no Evangelho de Lucas, é, certamente, uma das passagens do Novo Testamento mais emblemáticas e amadas pelos cristãos. Ela é uma das 44 parábolas narradas por Jesus nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) (COZZER, 2020, p. 461).
1. O CONCEITO DE PARÁBOLA E SUA UTILIZAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO... E AQUI
As parábolas foram amplamente utilizadas por Jesus em seu ministério. Em linhas gerais, as parábolas visavam ser usadas como recurso didático para ensinar ao povo as verdades relativas ao Reino de Deus. Noutro trabalho comento que a "[...] palavra "parábola" é originária do vocábulo grego parabolé e significa 'colocar uma coisa ao lado da outra; comparação'" (COZZER, 2020, p. 461).
Em nosso estudo, buscaremos extrair algumas lições possíveis para a vida cristã. Mas não ao custo da preocupação com o sentido exegético desta rica perícope bíblica. É preciso ter claro que "do ponto de vista da Hermenêutica, a ciência da interpretação bíblica, é uma narrativa alegórica constituída de personagens, coisas, incidentes e atitudes que, através de comparações, facilita a compreensão de realidades que se acham além do nosso entendimento" (COZZER, 2020, p. 461).
2. "UMA REGIÃO DISTANTE"
Depois de pedir ao pai a sua parte na herança, o filho mais reuni tudo o que tinha e vai para "uma região distante", como lemos em 15.13. Não há um indicativo claro, na parábola, de que região seria essa, mas isto de fato não importa, uma vez que fica claro que ele se distancia da casa do pai, que é a sua casa, e vai gastar sua herança nesse lugar distante.
Essa "região distante" inclui amigos com os quais ele esbanjou seus recursos, inclui prazeres e inclui algum nível de status. Mas, posteriormente, irá incluir também a ausência do pai, a ausência da família e depois, vai incluir a pobreza extrema: "Ele desejava encher o estômago com as vagens de alfarrobeira que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada" (Lc 15.16).
Quantos de nós não estão vivendo também nessa "região distante", que não necessariamente é um lugar em termos geográficos, mas pode ser uma região distante em termos existenciais, espirituais, relacionais ou emocionais. Estando no meio, estamos distantes. Solitários em meio a uma multidão, prosseguimos cumprindo uma rotina, até nos darmos conta de que precisamos de ajuda, de que chegamos numa condição extrema, em que ninguém pode nos dar o que precisamos: "... mas ninguém lhe dava nada" (Lc 15,16).
3. "CAINDO EM SI..."
Em minha opinião, esta é uma das mais lindas expressões do Novo Testamento. "Cair em si" é, certamente, uma das mais profundas experiências existenciais que podemos ter. "Cair em si", para o filho pródigo e para nós, assume o significado de olhar para dentro, para si mesmo.
É muito interessante pensar que esse filho, dando-se conta da situação terrível a que havia chegado, não culpa o processo, não culpa o seu pai, não culpa o seu irmão mais velho, não culpa as pessoas com as quais havia gastado sua herança e nem culpa o dono das terras que o havia colocado para cuidar dos porcos. Ao contrário disso, o filho pródigo cai em si, reflete e chega a uma conclusão. Mas não apenas isto: ele toma atitude: "Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi..." (Lc 15.18).
Temos a tendência de transferir para os outros a responsabilidade pelos nossos fracassos. O casamento que acaba nunca é porque eu tenha falhado em alguma medida, mas a culpa é sempre do meu cônjuge; o fracasso de uma amizade é sempre responsabilidade do amigo que falhou comigo; a crise da Igreja é sempre e unicamente responsabilidade dos líderes e dos crentes, sem qualquer participação minha - eu não sou parte desse problema!
Enfim, sempre estamos a transferir para o outro, e para os outros, a nossa responsabilidade na mudança que nós mesmos desejamos. Despendemos energias com isso. O filho pródigo, no entanto, está a nos ensinar e a inspirar com seu exemplo. Ele diz a si mesmo: "E eu aqui... Me porei a caminho... voltarei para meu pai... lhe direi" (Lc 15.17,18). E ele não apenas diz, ele faz: "A seguir, levantou-se e foi para seu pai..." (Lc 15.20). Quanta atitude em tão poucos versículos!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É maravilhoso pensar em como esta mensagem é atual, em certo sentido. A Palavra de Deus prossegue como uma mensagem de esperança, [re]orientação, exortação e consolo, além de nos ajudar a corrigir nossa rota.
Esta parábola nos ensina também que na impossibilidade de mudar nosso passado, ou de refazer uma trajetória, podemos definir uma nova rota e construir uma nova história, marcada pela presença do Pai e do seu amor. Aprendamos com o exemplo desse filho, que depois de cair em si (olhar para dentro de si mesmo) disse e agiu rumo ao lugar de onde nunca deveria ter saído.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Nova Versão Internacional. The Word. [Software]. Versão 3.1.4.1058. 2003-2010.
COZZER, Roney R. Enciclopédia teológica numa perspectiva transdisciplinar. Vol. 2. São Paulo: Editora Reflexão, 2020.
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