quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Sobre minha "desistência" da vocação ministerial

Por Roney Cozzer

Por vezes algumas pessoas lamentam o fato de eu ter me desligado das Assembleias de Deus e de hoje eu não mais exercer o ministério de ensino em igrejas evangélicas. Sei que esse lamento brota do reconhecimento do talento que Deus me deu e da contribuição que eu dei e poderia continuar dando. Mas de minha parte - preciso dizer - sigo muito bem com a escolha que fiz. Sou grato a Deus pelas pessoas amáveis e gentis que conheci no interior do movimento evangélico que, de fato, sempre valorizaram o meu trabalho, o meu ministério e manifestaram sincero entusiasmo e respeito por ele. Todavia, como escreveu uma dessas pessoas, uma amiga, uma Pastora, num poema que ela dedicou à mim e que reflete justamente sobre vocação, "[...] a colheita, às vezes, floresce em outro chão". Depois de décadas atuando a serviço da Igreja em igrejas evangélicas, de diversas formas, pude ter uma visão do todo, pude fazer uma leitura responsável e ampla e que me permitiu fazer a escolha que fiz.

Hoje, opto por tentar espaços onde eu seja valorizado e respeitado. Fico onde quiserem me ouvir, onde eu seja respeitado, onde eu não seja tratado como "tapa-buraco" de pregador que faltou, onde eu seja valorizado pela minha competência e pela formação que adquiri, onde meus títulos contabilizem pontos e não sejam tratados como coisa que não valem nada, como ouvi tantas vezes do púlpito de igrejas: "Diploma de Teologia não vale nada!" Claro! Gente tapada que nunca sentou para estudar e aprender realmente nunca será capaz de entender que aquele papel, o diploma, é só o símbolo de toda uma árdua jornada percorrida por quem decidiu percorrê-la. E só quem decidiu percorrê-la sabe o quanto lhe custou.

Quero ficar onde eu seja bem pago, valorizado inclusive financeiramente pelo meu trabalho e por isso mesmo sigo adiante estudando para concursos nas áreas da Educação, Fiscal e Administrativa. Fico onde eu possa ter mais tempo para mim, para minha família e amigos. Quero ficar onde eu seja visto como alguém que pode contribuir, pelo conhecimento adquirido e pela formação obtida, e não onde eu seja visto como uma ameaça, mesmo sem nenhum risco a oferecer... Enfim, igreja evangélica não é esse espaço. Não mesmo. Mas tudo bem! Entendendo isso, decidi parar de entregar minhas pérolas aos porcos e aprendi a respeitar a mim mesmo. Isso foi libertador! Diriam os psicólogos que isso é ressignificar... e foi o que eu fiz.

Hoje, sigo crescendo, expandindo meus horizontes, me desgastando por aqueles que valem a pena e por aquilo que vale realmente a pena. E o que vale a pena, para mim, hoje, no alto dos meus 41 anos? Respondo: saúde, tempo de qualidade com a família e amigos, ócio, viagens, escrever, lecionar, palestrar, cuidar dos que amo entre outras atividades. Ministério não está incluso, graças a Deus! Chega de púlpito, chega de crentes, chega de ofensas, chega de boicote ministerial, chega de gente intolerante que te hostiliza porque você disse uma vírgula teológica com a qual eles não concordam... Chega!

Honestamente? Lamento por aqueles que ainda se agarram a esse discurso abjeto, mas que é tão amado pelos crentes de que o ministério é lugar de sofrimento, de que você tem que suportar tudo... esse discurso horrível que legitima o sofrimento dos ministros sinceros ao invés de criticá-lo e de buscar superá-lo. Cansei disso e lamento pelos que se exaurem e adoecem por insistirem nessa crença limitante e não buscam novos horizontes para suas vidas. Gastam suas vidas, sua saúde e até mesmo seus relacionamentos (casamento, filhos) em favor de igrejas evangélicas que, salvaguardadas as exceções, tratam mal seus voluntários e os descartam, inclusive, quando cometem algum tropeço moral, mesmo que seja pontual.

De cá, sigo feliz! O Reino é maior que essas instituições carcomidas pelo machismo, pelo patriarcalismo, por Mamom, pela luta pelo poder e que, claro, sempre verão pessoas como eu como uma ameaça. 

Óbvio... 

Mas o vento sopra onde quer. O próprio Cristo operou fora dos limites religiosos e eu me sinto feliz por viver o Reino de Deus fora desse meio que boicota e mata seus próprios servos e ministros. Se eu desisti da minha vocação? Sim e não! Quanto a exercê-la a serviço dos crentes, sim, eu desisti. Quanto a exercê-la na vida, no cotidiano, no cuidado dos meus, no exercício da minha profissão com amor e carinho, enfim, nas diversas atividades do cotidiano, no exercício do amor, da amizade, do cuidado, da escuta que acolhe, enfim, vivendo a vida como ela é, eu respondo que Não, eu não desisti da minha vocação. Ela segue viva e pulsante... talvez mais do que antes.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sobre minha "desistência" da vocação ministerial

Por  Roney Cozzer Por vezes algumas pessoas lamentam o fato de eu ter me desligado das Assembleias de Deus e de hoje eu não mais exercer o m...